Existem cães irrecuperáveis?

Será que existem cães irrecuperáveis? Um cão rotulado de “irrecuperável”, está logo à partida a ser julgado e condenado.

Há uns anos recebi um telefonema que se desenrolou da seguinte forma:

“Bom dia, tenho um cão fechado num armazém arrendado e tenho que o entregar até ao fim do mês. O problema é que o cão só obedece ao meu marido que neste momento não está cá, eu tenho medo dele, não lhe vou lá dar água nem comida. Havia um senhor que queria ficar com ele, mas foi atacado e foi para o hospital. Não vou lá dar-lhe de comer nem o vou dar a ninguém, não vou perder tempo com treinos nem com nada, ele não tem recuperação possível. Agora diga-me: o que é que faço?”

A meu ver, a leitura disto é muito simples: esta pessoa estava à espera de uma resposta que nunca ouviria da minha parte. Até compreendo o desespero e tudo à volta, contudo quando logo à partida já estamos a fechar todas as portas dá que pensar…

Certamente, já todos ouvimos alguém dizer coisas como: “Não há nada a fazer”; “Não vale a pena”; “Já tentamos tudo e não resultou”; “É irrecuperável”, entre outras. O destino desses cães é quase sempre o mesmo: são negligenciados, presos no fundo do quintal longe de tudo e todos, ou sacrificados.

Neste texto, abordo apenas a parte comportamental, não a parte da saúde.

Embora muitas vezes alguns comportamentos tenham a sua origem em questões de saúde. Nesse caso terá que se começar por resolver a parte da saúde e só depois  se pode passar para a parte do comportamento. E resolver as questões de saúde só diz respeito a veterinários. Depois entra um educador canino para a parte comportamental, não um treinador.

Voltando à questão da recuperação de um cão. Temos conhecimento para dar um cão como irrecuperável? Temos algum super poder? Adivinhamos o futuro? Estamos dentro da cabeça do cão? Sabemos o que está a sentir? 

Na minha opinião, na maioria dos casos em que um cão é rotulado de “irrecuperável”, está logo à partida a ser julgado e condenado por alguém que não tem conhecimento para o recuperar, ou não sabe utilizar o conhecimento que tem. Fica com a consciência tranquila e deixa todos com a consciência tranquila. Nos dias de hoje, o acesso a informação é fácil, só temos a questão de ser boa ou má informação. Se for boa, só nos resta saber e conseguir passar à prática, ou seja, usar as ferramentas que temos à disposição.

No caso dos cães, se não nos sentimos capazes, se temos a necessidade de chegar ao ponto do “irrecuperável”, então é melhor passar o caso a outra pessoa, a vida e o direito a ela são muito mais importantes que o ego, a vergonha ou até a falta de vontade ou disposição para trabalhar com um ser vivo.

Não há cães irrecuperáveis, há cães que precisam de oportunidades, tempo, espaço e pessoas que não queiram recuperações arrancadas a ferros e estejam dispostas a dar-lhes apoio e a compreende-los.

Em suma, nenhum cão procura conflitos, morder por morder, por maldade ou vingança, se o faz é porque já passou por muito ou porque já não tem alternativa. Não sabemos o que aquele determinado cão passou e não faz falta, basta saber que precisa de tempo, espaço e ser compreendido, a confiança conquista-se e a recuperação surge naturalmente.

João Pedro – Educador Canino

Mania dos Cães – Educação e Treino Canino

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