Ao contrário, um cão não tem qualquer interesse ou prazer em morder, um cão evita morder. E porquê? Primeiro, porque o conflito não lhe traz vantagem, tem consciência de que pode ficar ferido e sofrer com isso. Depois, porque há no organismo uma série de reacções químicas e alterações hormonais que, dependendo de cada cão, podem chegar a demorar vários dias até estabilizar.
Se fizermos uma análise profunda às histórias de cães que mordem ou morderam, facilmente vamos perceber que tudo começou a acontecer por medo! Nesta parte ainda há pessoas que ficam muito ofendidas porque são incapazes de aceitar que o seu cão tem medo. Então, não acreditam que o cão tem medo. O meu conselho é: Cresçam, aceitem os vossos próprios medos ou inseguranças, arranjem ajuda e parem de se refugiar atrás de um cão.
E aqueles cães que vão atrás de outros cães ou pessoas para morder?
Esta é a parte complicada, complicada para esses cães. Se já chegaram a esse ponto, foi por já terem passado por demasiadas situações de medo. Isso resultou numa aprendizagem: “Se morder consigo resolver tudo”! Então, o cão vai passar a morder quando sentir uma ameaça, que pode ser real ou não.
E quando um cão morde as pessoas de casa, também é por medo?
Sim, é por medo, normalmente provocado por falhas na comunicação! A nossa pressa em ter respostas, a nossa frustração por pedirmos alguma coisa ao cão e ele não responder, etc., podem facilmente acabar por gerar medo. Se houver agitação no ambiente há stress (bom ou mau) e o cão não está mentalmente tranquilo para perceber o que queremos dele. Nós, pela falta de resposta, acabamos por nos apresentar como uma ameaça para o cão. É aí que surge o medo e a necessidade de se defender.
Como se resolve? Fica para um próximo texto. Agora, importa perceber porque é que o cão morde. Mas, antes de tudo, uma comunicação clara e um estado mental tranquilo são fundamentais.
Em conclusão, se um cão morde (ou mordeu) é importante rever o ambiente em que está e perceber o que está a causar medo, podemos mesmo ser nós e não há qualquer mal nisso (exceto se for propositado). É importante rever a atitude e a forma como abordamos o cão. Assustar não é educar.
Se mudarmos o ambiente, a nossa atitude e a forma como comunicamos, um cão acalma, tem tempo de pensar e de nos compreender e, acima de tudo, passa a confiar em nós; depois disso, toda a relação ganha.
Neste texto nunca falei em dar biscoitos, técnicas de condicionamento e contra condicionamento, correções ou qualquer outra técnica de treino. Não morder é um comportamento natural do cão, por isso a base da resolução está em mostrar-lhe que não tem necessidade de se defender de algo que ele considere uma ameaça, seja ela real ou imaginária. A partir daí, tudo está no seu devido sítio.
Nenhum cão devia ter de passar por situações de medo para aprender e muito menos viver diariamente assustado com alguma coisa.
Muito mais haveria para escrever sobre o tema, poderia dar explicações mais completas e técnicas, mas este texto é para todos, principalmente para aqueles que querem e fazem tudo para compreender os seus cães e ajudá-los.
João Pedro – Educador Canino
Mania dos Cães – Educação e Treino Canino