O meu cão precisa de ir para a creche canina?

A creche canina ou daycare é uma moda que rapidamente cresceu e está a estragar a vida a muitos cães!

Tudo terá começado quando se começou a falar em “desenvolvimento correto do cachorro”, “socialização”, “estimulação mental”, “cansar o cão”, “deixar o cão acompanhado quando não estamos em casa”, entre outras expressões. Contudo, nunca se explicou a ninguém que há limites: há que ter bom senso, principalmente sabendo que um cachorro não tem necessariamente que ir por aí a ser exposto a todos os estímulos, enquanto vamos colocando um visto na lista de socialização. Nunca ninguém disse que os excessos são tão maus ou piores do que as carências.

Na educação de um cão, quando há uma carência podemos sempre acrescentar, quando há um excesso é muito mais difícil retirar e já podemos ter um problema de comportamento entre mãos.

Um cão não é uma criança. A criança vai para a creche, fica ali com outras crianças e no fim do dia volta para casa. Se há duas crianças que não estão bem uma com a outra, são separadas e não há qualquer problema. Estas crianças estão acompanhadas por pessoas devidamente formadas e sabem aquilo que a criança sente ou o que lhe faz falta. E ainda assim há muitas crianças que não querem ir!

E nas creches caninas?

Nas creches caninas, os cães são enfiados num espaço com outros cães desconhecidos sem terem a mínima consciência do que está a acontecer ou porque ali foram parar, não sabem sequer se a pessoa deles vai voltar. Instala-se o medo e o stress e, em muitos casos, o que ajuda é a capacidade de resolução e adaptação dos cães. A juntar a isto, temos a grande quantidade de cães juntos.

Dizem os senhores e senhoras das creches que “os cães são animais de matilha”.  ERRADO: os cães não são animais de matilha, foram animais de matilha. Os humanos não fazem ideia de como se forma uma matilha, apenas se limitam a juntar cães.

Mais importante ainda: uma matilha é formada por indivíduos que querem estar juntos, não por cães agrupados por um humano. Ainda para mais, quando é um humano que não tem qualquer formação sobre comportamento e linguagem dos cães, ou tem uma formação onde passou só para ter um certificado no final. O suposto “ter jeito”, “sempre ter tido cães” ou “gostar de cães”, não qualificam ninguém.

A dita matilha, quando formada por cães, não tem mais do que 4 ou 5 elementos e foram eles que escolheram estar juntos, quando algum já não se sente bem vai embora, tem escolha! Na creche não há escolha.

As pessoas que trabalham nas creches não estão treinados para reconhecerem a linguagem dos cães e antecipar o que pode vir a ser um problema, que pode e deve ser evitado.

A prova disso está na quantidade de vídeos partilhados por creches caninas em que há sempre um ou dois cães a tentar evitar algum confronto entre outros, há sempre um ou dois cães a tentar separar um cão que tem medo  e está a ser perseguido por outros que estão demasiado stressados para perceber o que se passa.

E isto, num local que funciona bem não deveria acontecer. Num local que funciona bem as pessoas têm formação, sensibilidade, empatia e proporcionam aos cães condições para descansar, para se isolarem de outros e para escolherem as companhias. Além disso, proporcionam estimulação mental adequada e ajustada a cada indivíduo e nunca sobre-estimulam os cães com exercício físico ou interações que não são as adequadas.

E depois o que acontece?

Acontece que o cão que não está confortável, tem medo ou está stressado começa a morder os outros…Rapidamente é etiquetado de “mau da fita”, “reativo”, “agressivo” entre outros. E então passa a ser proibido de ir à creche. Claro que ele agradece, contudo entretanto já não se quer sequer cruzar com outros cães na rua e por vezes até pessoas e as suas pessoas acham que ele agora é “anti-social” quando na verdade foi apenas vitima da ignorância e ego de alguém que não sabe nada sobre comportamento de cães.

É bonito dizer “ eu trabalho com cães”, “eu tenho uma creche canina”, “eu sou treinador”, “faço alojamento canino”… para não falar no lado financeiro…poucas faturas, poucos impostos, a contabilidade bem feita e sobra uma fatia bem jeitosa. Depois algo que começou porque se gosta de cães, acaba por se transformar numa fonte de rendimento fácil onde o principal interveniente nunca é ouvido.

Problemas de comportamento originados por más experiências em creches e alojamentos fazem sérios danos na vida de um cão, danos esses que podem demorar meses a reparar. 

Trabalhar com cães é trabalhar com vidas, é um serviço de responsabilidade, exige aprendizagem constante, conhecimento e empatia, quem não estiver disposto a isso é melhor ir trabalhar com pedras. Eu sei, é um trabalho duro…

Se sou contra creches caninas? Não, de forma alguma, sou apenas contra as pessoas que têm creches e não têm qualquer respeito pelos clientes (cães e suas pessoas) ou conhecimento sobre cães e decidem montar um negócio onde deveriam respeitar as vidas que lá acolhem mas não o fazem.

João Pedro – Educador Canino

Mania dos Cães – Educação e Treino Canino

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