E sim, na verdade o cão aprende! Vejamos:
– Aprende que somos uns idiotas e não o deixamos comer sossegado
– Que pode ter necessidade de proteger a comida. Afinal está ali alguém a fazer o que facilmente pode ser interpretado como uma tentativa de lhe tirar a comida
– Somos perigosos quando lhe damos comida, porque se tentar comunicar (rosnar) é repreendido
– Aprende a não confiar em nós por não termos atitudes equilibradas, sobre atitudes equilibradas entenda-se: pôr a mão na comida enquanto o cão come, repreender o cão de cada vez que se tenta comunicar (sim, rosnar é comunicação, é um aviso: “estás a incomodar e eu não te quero morder, mas se não tiver alternativa vou morder)
Ninguém nasce ensinado mas todos nascem com bom senso, é uma questão de começar a usar!
Muitos “entendidos” em comportamento dizem que um cão tem de respeitar. Mas esquecem um pormenor, o pormenor mais importante, há dois ditados populares que traduzem bem:
“Não faças aos outros o que não gostas (ou não queres) que te façam” e “Respeita se queres ser respeitado”.
Em conclusão: seria bom começarmos a perceber que o respeito deve ser mútuo.
Os “entendidos”, como se esquecem deste detalhe e são cheios de boa vontade, sugerem muitas vezes (demasiadas) que se deve mexer na comida do cão. Quer para ele aprender a respeitar-nos, quer para “ele se habituar a que se mexa na comida”. Quem é que no seu perfeito juízo, precisa de mexer na comida do cão e para quê?” Pode haver a necessidade de tirar alguma coisa que o cão esteja a comer e o ponha em perigo, mas isso é uma situação completamente diferente e existem técnicas para ensinar isso.
Uma vez visitei uma família, completamente destroçada, mas com vontade de corrigir tudo o que tinha sido aconselhado por um destes “especialistas”. Entre muita informação desatualizada e sem qualquer lógica, lá estava a técnica de pôr a mão na comida enquanto o cão come, mais grave é que foi sugerido que a criança da casa, com apenas 4 anos fizesse… A mãe, com pouca informação sobre cães mas a esforçar-se para que a relação cão-criança fosse a melhor, seguiu a sugestão. Claro que o resultado não foi o melhor, a criança acabou bastante mordida, ao ponto de ficar com o braço quase desfeito.
A quem é que este “entendido” apontou as culpas? Ao cão, que segundo ele era imprevisível e mimado e ao casal, que segundo ele, o “entendido”, não sabia educar o cão… Felizmente a criança recuperou bem, o principal é que aparentemente não ficou com medo do cão. Pior ficaram os pais, por terem tentado fazer tudo bem e terem seguido o conselho que alguém, sem conhecimento nenhum sobre cães lhes deu e terem colocado o próprio filho em perigo. (Alguns podem estar a pensar: “Mas que tipo de gente faz isso a um filho?” Eu respondo: Quando é com os outros é sempre tudo simples e na teoria somos sempre os melhores e mais sensatos. Qualquer pessoa a tentar fazer bem já teve problemas).
João Pedro
Educador Canino
Mania dos Cães – Educação e Treino Canino
Subscreva a newsletter