Conseguir um bom vínculo e um bom foco com o cão

Todos nós, sem exceção, temos o desejo de ter um bom vínculo com o nosso cão.

Se pesquisarmos um pouco por alguns livros ou artigos, vários profissionais nos explicam como o fazer. Há teorias que passam até por andar com o cão ao colo…para mim isso é no mínimo estranho! Depois há outras teorias que consistem em passar o tempo a dar biscoitos ao cão, muitas festas e muitos elogios…isto dá-me uma certa sensação de sufoco e nenhum ser gosta de se sentir sufocado. Por isso, isto só fez sentido até certo ponto e não vale a pena andar com histórias, ninguém anda sempre aos beijinhos e abraços, um ser vivo passa por vários estados emocionais e não vive 24/7 num arco-íris. 

Mais à frente (ou atrás por serem métodos desatualizados), temos a famosa liderança: o mostrar ao cão que somos o seu líder e temos a capacidade de o guiar e orientar pela vida fora pois somos seres superiores e (supostamente) com inteligência. Por causa disso, acreditou-se muito tempo que o cão se vai ligar cegamente àquela pessoa.

Dentro deste capítulo, temos a questão do ser firme com o cão: nunca deixar o cão caminhar à nossa frente e outras estratégias que até incluem o comer antes do cão, ou fazer muitos exercícios de obediência.

Depois de muito observar, comparar e experimentar ao longo dos anos, cheguei à triste conclusão de que nada disto é válido e começo a acreditar que quanto mais profissionais aparecem, maior é o número de cães com problemas. Quanto mais teorias de “como fazer” são inventadas, maior é o número de pessoas baralhadas e o número de cães que são arrastados para problemas continua a aumentar.

Em suma, acredito que os profissionais e supostos profissionais deviam passar mais tempo a aprender sobre os cães, sobre comunicação e sobre o que é empatia (são demasiados os que não têm formação ou conhecimento atualizado, apesar de terem um grande número de formações). E deveriam passar muito menos tempo a repetir os mesmos erros: alguns continuam a trabalhar como trabalhavam há 20 anos, 10 ou até 5 anos atrás e isso não é evoluir, é parar no tempo.

Então como é que se pode criar um bom vinculo? Já explico mais à frente.

No que diz respeito ao foco, ou seja, ser o centro da atenção do cão. Aqui repetimos um pouco a parte das teorias anteriores com alguns ajustes. Umas teorias dizem que o cão olha para ti e recebe biscoitos ou chamas o cão, ele olha para ti e recebe biscoitos e outras teorias dizem que dás um puxão na trela, o cão olha para ti e chamas-lhe “muito lindo” e até podes dar um biscoito. As duas são teorias ridículas! Por um lado, o que ensinas ao cão é que se olha para ti come. E por outro, ensinas que se não olha para ti é castigado (alguns dizem corrigido). Quando não tiveres biscoitos nem a trela, o cão vai dizer: por um lado, não tens comida então não me serves para nada; e, por outro, não tens trela não me fazes nada… Então como se consegue um bom foco?

Aqui tudo se liga: um bom foco consegue-se com um bom vínculo!

Para ter um bom vínculo, precisas de ser aquela pessoa de confiança, que sabe o que o cão quer, que o ajuda quando ele não sabe o que fazer, que compreende o que o cão sente e o que lhe diz. Tens de saber identificar o que é mau para o cão, o que o faz sentir mal, o que lhe é desnecessário. Podes partilhar a tua comida com o teu cão, deitar-te no chão ou no sofá e dormir uma sesta juntos. Saber estar com ele sem o sufocar, sem estar em guerra e ser igual a ele, fazer com que se sinta igual a ti.

Não são os cães que têm de se pôr no seu lugar, é a pessoa que têm de se pôr no lugar do cão para perceber o que ele sente. Dito de outra forma, precisas de ser uma boa referência, precisas de ser a pessoa para quem o teu cão olha naturalmente quando está perante uma situação em que não percebe o que se passa ou que o assusta. Isso é o trabalhar e conseguir um bom vinculo e por acréscimo um bom foco.

Olhando para trás, lembro-me de vários cães que conheci e os que tinham liberdade de escolha, liberdade para explorar, pessoas que passavam tempo com eles sem lhes exigirem nada, apenas pedindo o que queriam. Eram cães que tinham um bom vínculo com essas pessoas e não tinham problemas com o mundo. (Atenção, quando falo em liberdade é evidentemente liberdade controlada, não liberdade de andarem pela rua ou por onde quer que seja).

Eduquem-se para perceber os vossos cães, percebê-los e saber comunicar com eles é a melhor recompensa que lhes podemos dar.

João Pedro

Educador Canino

Mania dos Cães – Educação e Treino Canino

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