Usar eficazmente castigos na educação ou treino do cão?
É simples, fácil e rápido para algumas pessoas, colocarem uma coleira de choques, de picos ou estranguladora num cão e rapidamente acabar com um comportamento que não é desejado. Mas, é importante perceber que alguém que faz isto ou não tem consciência ou não quer ter dos riscos que o cão corre e muito menos dos danos que lhe pode causar. Para que não restem dúvidas deixo aqui a lista: – Mau funcionamento da tiróide – Ferimentos na cervical derivados dos puxões – Lesões na medula – Paralisia – Esmagamento da traqueia – Asfixia total ou parcial – Esmagamento ou fracturas nos ossos da laringe – Deslocação das vértebras do pescoço – Hematomas no esófago – Danos na pele e tecidos do pescoço – Prolapso do globo ocular – Danos cerebrais Não devemos esquecer que, ao contrário do que alguns “entendidos” dizem, o pescoço é uma zona muito desprotegida onde se localizam várias estruturas sensíveis como a traqueia, o esófago, a glândula tiróide, vértebras cervicais, artérias e veias fundamentais à oxigenação do cérebro. Como tal ao agredir esta zona acabamos por danificar uma ou várias estruturas. Além do mais também há uma série de aprendizagens negativas ou traumas que o cão vai sofrer e que por sua vez dão em muitos casos origem a vários problemas de comportamento. O foco de muitos “profissionais” é principalmente ensinar comportamentos: senta, deita, fica, olha, quieto, vai para o teu sitio, etc… Acreditam que o cão ao aprender estes comportamentos se vai tornar excelente ou vão resolver questões como agressividade, reactividade, medo e outras. Mas a realidade o que estão a fazer é a orientar o cão para um comportamento e não a relembrar ou a mostrar ao cão quais as alternativas que tem e a impedir a comunicação. Mais do que ensinar comandos (ou sinais) ou eliminar comportamentos importa mostrar ao cão que pode utilizar os comportamentos naturais que tem na sua bagagem (e se alguém disser que um cão ao utilizar os seus comportamentos naturais vai morder, agradeçam a sinceridade, essa pessoa acabou de dizer que não sabe nada de linguagem e/ou comportamento canino). Um cão é um animal social e sociável, como tal evita conflitos, não um animal que procura conflitos. Sempre que um cão tem a possibilidade de sair de uma situação que o ultrapassa sem morder, ele vai optar por essa saída. Se optar por morder, então algo na sua vida já não está bem há muito! Já passou várias vezes por situações que foi ignorado ou não foi respeitado e chegou ao limite, então resta uma última saída, o conflito! Noutras palavras, a mordida. Mais do que saber ensinar ou suprimir comportamentos importa aprender sobre a verdadeira linguagem dos cães: Turid Rugaas – Calming Signals. Para quem gosta verdadeiramente de cães e tem a mente aberta para aprender é algo fascinante. Um cão ou o comportamento em geral não são ciências exactas e como tal é frequente descobrirmos mais sobre eles. O que muitos nomes nos deixaram estava certo na sua época, actualmente pode já não estar. Por isso mesmo não nos devemos agarrar a essas teorias antigas, devemos sim procurar novas teorias, novos nomes da investigação e que estejam devidamente fundamentados com dados científicos, a isto chama-se aprendizagem. Aprender não é um sinal de ignorância, é um sinal de inteligência e humildade. O que é novo pode assustar, a mudança, seja em que área for assusta mas pelo bem dos cães que tanto dizemos amar devíamos ter mais vontade de aprender e mais empatia. É preciso coragem para aprender, para mudar, para fazer diferente do que sempre se fez. As frases “Sempre se fez assim” e “Não há outra forma” denunciam a falta de vontade de aprender, a falta de humildade. Dessas pessoas devemos fugir, é a única realidade que conhecem e não é a que queremos para o nosso cão. Justificar o uso de técnicas que envolvem medo ou acessórios que causam dor dizendo que é para o bem do cão só faz de nós parte do problema, nunca parte de uma solução. O cão é a única espécie que está com o ser humano por escolha. Sejam humildes, tratem-nos com respeito, não lhes lixem a vida, agradeçam-lhes por estarem nas vossas vidas e não envergonhem a espécie humana! João Pedro – Educador Canino mania dos cães